LER: PRAZER OU OBRIGAÇÃO?


Na expressão “leitura obrigatória”, o adjetivo “obrigatório”, por si só, já afasta qualquer vontade de ler. 
Não poderia estar mais de acordo com Fernando Savater quando,  numa entrevista conduzida pela jornalista Ana Sousa Dias (ver/ouvir aqui), diz que os prazeres se contagiam, não se impõem, e que os jovens devem ser introduzidos na leitura de uma forma lúdica e não forçada para que, começando com obras mais acessíveis, aos poucos, passem para obras mais complexas.
Então, mais do que obrigar a ler, importa sugerir, mostrando os livros (capas, sinopses, booktrailers…) promover fóruns de leitura em sala de aula, provar que este ou aquele livro tem magia, que vai dar prazer, vai divertir, vai fazer sentir, viajar, viver de forma diferente. E muitas são as atividades possíveis para que estes objetivos sejam alcançados. 
Não há mediador de leitura que leve os outros a ler se não conhecer profundamente os livros para os adequar ao gosto pessoal de cada futuro leitor, que não fale com paixão sobre eles, que não use técnicas de persuasão.
Um mediador de leitura que queira contagiar deve, voltando a citar Savater, “inteirar-se não dos livros que ele quer que o miúdo leia, mas, sim, dos livros que o miúdo quer ler”.
Pessoalmente, enquanto professora de português, começo o ano letivo levando um saco de livros para a sala de aula, para os alunos começarem a fazer as suas escolhas. No blogue que mantenho para as minhas turmas são, também, sugeridas leituras de acordo com os seus interesses ou com as necessidades programáticas.  
Após fóruns de leitura, em sala de aula, já vi alunos saírem da sala a correr (literalmente) para irem à BE buscar o livro que acabou de ser apresentado. 
Já vi uma aluna chorar porque era a única na turma que não estava a ler um livro, por isso não tinha nada para partilhar, ao contrário dos colegas que falavam do livro que estavam a ler. 
Já ouvi uma aluna dizer, cheia de entusiasmo, que quando tivesse um filho lhe daria o nome da personagem do livro que tinha acabado de ler, de tal maneira a marcou.
Já ouvi vários alunos, muito tempo passado, dizerem sobre o livro que ouviram ler na “Hora do conto”: “Gostei tanto do livro X!". E vi os alunos quererem requisitá-lo depois da sessão. 
Para que isto aconteça, e como preconiza o Referencial Aprender com a BE,(1) é preciso envolver os alunos, antes, durante e depois da leitura, com atividades que captem a atenção e o interesse, desde atividades lúdicas a atividades de pesquisa, passando pelo diálogo e pela escrita como forma de desenvolvimento da expressão oral e escrita.
Para concluir, mais uma vez concordo com o grande pensador Fernando Savater: “ler também é diversão”. Pena que muitas pessoas não o tenham descoberto.

(1) Mais informação sobre o Referencial aqui

por, Ana Paula Oliveira, professora bibliotecária