Crónica Cracoviana III


Estrangeiro não é estranho

A viagem a Cracóvia, de 12 a 16 de abril, revelou uma cidade cheia de cultura e muito interessante. A chuva com que fomos recebidos não diminuiu a vontade de conhecer tudo o que já previa ser esta cidade que soube não se deixar destruir pela fúria da guerra.
Devo confessar que a chegada ao hostel foi para mim pouco sedutora. No entanto acabou por se revelar uma experiência bem simpática: dormir num “barco” no rio Vístula!
Do outro lado do rio, fica o castelo de Wawel… Mas qual castelo? Foi a minha primeira sensação, já que procurava uma fortificação medieval, carregada de séculos e de história. Muito diferente dos nossos castelos, é uma construção renascentista, feita sobre outras anteriores e símbolo da identidade nacional. Logo o pátio me fez lembrar o Pátio das Escolas em Coimbra. A visita aos diferentes aposentos revelou histórias de reis e do país. Ao lado de preciosos objetos causaram espanto umas quantas surpreendentes e nobres cadeiras adquiridas em Portugal. E, como não podia deixar de ser, também este, como todos os castelos, tem uma lenda: um dragão que espalhava maldades pela região foi derrotado pela esperteza de um jovem sapateiro que recebeu como prémio a mão da princesa. O dragão lá está, à beira do castelo, e de vez em quando vai soprando o seu fogo. Diz-se que à noite vai dormir na mina de sal de Wieliczka. Símbolo da cidade, encontrámo-lo também em muitas lojas feito em diferentes materiais e de diferentes cores.
A Praça do Mercado de Cracóvia é imensa e o ambiente turístico mistura gastronomia e artesanato. Ao cimo da praça estacionam carruagens puxadas por parelhas de cavalos. Embora mais sofisticadas e numerosas que as de Sintra ou de Óbidos, cumprem a mesma função - proporcionar um passeio mais fácil pela cidade. Era véspera de Domingo de Ramos e na praça vendiam-se pequenos ramos de flores que as pessoas levariam à cerimónia na Basílica de Santa Maria cuja descoberta trouxe uma quantidade de surpresas. O exterior é sóbrio, apesar das duas torres desiguais; foram construídas por dois irmãos que cederam às tentações do poder; as rivalidades entre ambos tiveram um final trágico. A todas as horas, para lembrar uma época da história da cidade, numa das torres toca um trompetista em memória daquele cuja garganta foi trespassada quando alertava os habitantes para a aproximação de exércitos inimigos. Tendo salvado muitas pessoas, os habitantes quiseram que fosse recordado para sempre. Simpático, o trompetista saúda brevemente quem passa. Mas a maior das surpresas, ainda que apenas numa rápida “espreitadela”, foi o interior da Basílica: ricamente decorado, é magnífico.
No enorme mercado, com brasões de todas as cidades polacas, dá-se a conhecer e valoriza-se o artesanato do país.
Claramente, é uma cidade cheia de história, mas com um ambiente muito jovem, talvez pela quantidade de estudantes que frequentam a universidade. As pessoas são acolhedoras, até porque estrangeiro não é estranho.

Ana Maria Baía